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Publicado em Cardiologia
  por Dr. Miguel Alves
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A morte súbita cardíaca é uma morte de causa natural, por falência abrupta do coração, manifestando- se por uma perda do estado de consciência que, ocorre no espaço de uma hora após o início dos sintomas agudos. A doença cardíaca pode existir previamente mas, o momento e o modo como a morte ocorre são inesperados e, por cada minuto que passa sem que sejam tomadas as medidas de tratamento adequadas, as hipóteses de sobrevivência diminuem drasticamente.

Ao contrário daquela que é muitas vezes a convicção das pessoas, talvez fruto das imagens dramáticas a que assistimos nos últimos anos, da morte inesperada, em campo, de vários atletas, esta não é, contudo, uma doença só dos desportistas e também não ocorre apenas durante o esforço físico. É uma doença que atinge ambos os sexos e todas as faixas etárias, havendo um claro aumento da sua incidência com a idade e o consequente aumento do risco cardiovascular. A grande maioria destas mortes, na população com mais de quarenta anos, tem subjacente uma doença aguda ou crónica das artérias coronárias, sendo que certas doenças do músculo cardíaco e as chamadas doenças "elétricas" do coração são também responsáveis por algumas destas fatalidades, sobretudo nos mais jovens. O processo que conduz à morte súbita cardíaca é habitualmente uma alteração grave do ritmo cardíaco, nomeadamente uma arritmia chamada de fibrilhação ventricular, que faz com que o coração deixe de exercer a sua função de bombear o sangue para o resto do corpo. O tratamento deste tipo de arritmia é a aplicação de um choque elétrico no tórax do indivíduo. Este procedimento pode ser realizado utilizando um aparelho chamado de desfibrilhador externo, que pode detetar de forma automática a doença, aplicar o choque elétrico e verificar o seu sucesso, ou também através de um cardioversor- desfibrilhador implantável, um aparelho de dimensões semelhantes às dos vulgares pacemakers, implantado no tórax debaixo da pele, nos doentes que têm uma elevada probabilidade de virem a sofrer determinadas arritmias graves. Apesar da redução sistemática da mortalidade por doença cardíaca que a Medicina tem conseguido nos últimos 20 anos, metade das mortes de causa cardiovascular são súbitas, ocorrendo muitas das vezes fora dos hospitais o que, numa doença em que cada minuto conta, contribui para que esta seja, por exemplo em Portugal, a causa de morte de 27 pessoas por dia, mais do que aquelas que morrem por acidente vascular cerebral, cancro ou SIDA.

No que concerne à morte súbita de causa cardíaca, a nossa preocupação enquanto médicos, assenta em dois aspetos fundamentais: a sua prevenção e o seu tratamento atempado e eficaz. Em termos de prevenção, tem sido possível desenvolver vários modelos de risco que permitem identificar os indivíduos mais suscetíveis, adequando assim os meios e as medidas que evitem a sua ocorrência. A avaliação inicial do risco de morte súbita é realizada através de uma consulta médica simples, em que são avaliados os sintomas de cada indivíduo, a sua história familiar, em que é realizado um exame clínico cuidado e, quando necessário, exames complementares de diagnóstico, como o eletrocardiograma, o ecocardiograma, a prova de esforço, o Holter de 24 horas, entre outros. No tratamento, é fundamental otimizar a chamada "cadeia de sobrevivência", o que passa em primeiro lugar pela educação da população para a saúde, ensinando-a a reconhecer os sintomas, a acionar os mecanismos de socorro que estão à sua disposição, e também generalizando na comunidade o conhecimento das técnicas de suporte básico de vida, aumentando a disponibilidade de desfibrilhadores automáticos externos próximos das populações e agilizando os sistemas de emergência médica, garantindo uma cobertura o mais global possível da população para que o tempo até ao tratamento seja minimizado e assim se aumente a sobrevivência desta doença. Para os doentes cujo risco de morte súbita cardíaca por arritmia cardíaca é muito elevado ou aqueles que já tiveram arritmias graves, a implantação de cardioversores- desfibrilhadores é outra opção que se tem vindo a mostrar altamente eficaz na redução da mortalidade por esta doença.

Dr Miguel AlvesDr. Miguel Alves

Modificado em quarta, 15 janeiro 2020 10:51