Antigamente o tratamento dos doentes que sofriam enfarte do miocárdio (EM) resumiase a repouso prolongado no leito durante 6 a 8 semanas, porque na altura se achava que o esforço podia levar a dilatação do coração, rutura cardíaca, a arritmias, a novo EM ou morte súbita. Após a alta, até atividades banais como subir escadas eram desencorajadas e o regresso ao trabalho ou a uma atividade normal era raro. Hoje sabe-se que a mobilização precoce é benéfica e permite assegurar ao doente cardíaco as melhores condições físicas, mentais e sociais, de modo a que este possa voltar a ocupar um lugar na comunidade e levar uma vida ativa.
O programa de Reabilitação Cardíaca (RC) deve ter início durante o internamento hospitalar e deve ser coordenado por um cardiologista. O exercício constitui a parte central da RC, mas o controle da tensão arterial, da diabetes, da dislipidémia, o abandono dos hábitos tabágicos e a perda de peso, fazem parte deste programa, sendo a manutenção da terapêutica medicamentosa fundamental.
A Prova de Esforço deve ser realizada antes de o exercício ter início, pois dá-nos informação sobre o estado cardiovascular do doente, determinando a sua capacidade funcional, o que é essencial para prescrever a frequência, a intensidade, a duração e o tipo de exercício a desenvolver. Posteriormente deve ser repetida para avaliar o impacto do treino ocorrido e atualizar a prescrição do exercício
O exercício é individualizado, devendo ser realizado 3 a 5 vezes por semana, durante 20 a 60 min por dia, podendo ir desde o simples caminhar, até ao correr, subir escadas, andar de bicicleta, nadar ou praticar ginástica aeróbica. A RC é benéfica para os doentes que sofreram um EM, mas também para os que sofrem de angina de peito, de insuficiência cardíaca, que foram sujeitos a cirurgia de bypass aortocoronário ou a angioplastia coronária, a transplante cardíaco ou a cirurgia valvular cardíaca. Também o diabético, o insuficiente renal crónico, o doente pulmonar crónico e o idoso, são potenciais candidatos. A RC é benéfica para um sem número de doentes, aumentando a capacidade ao esforço, melhorando a saúde cardiovascular, reduzindo a mortalidade e é extremamente compensadora do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida e do bem-estar psicológico dos doentes.
Dra. Margarida Leal